A busca por tratamentos inovadores no combate ao câncer nunca cessou, e uma recente descoberta promete trazer novos horizontes para a medicina oncológica. Cientistas encontraram um possível aliado no tratamento de tumores metastáticos em um medicamento antigo, utilizado no tratamento de doenças cardíacas: a digoxina. De acordo com um estudo recente, a digoxina pode ter o potencial de impedir que células cancerígenas se espalhem para outros órgãos. Essa descoberta abre caminho para novas abordagens no tratamento do câncer, especialmente no que diz respeito à metástase, um dos principais desafios na luta contra a doença.
O papel da metástase no câncer

A metástase é um processo no qual as células cancerígenas se desprendem do tumor original e se espalham para outras partes do corpo, formando novos tumores. Esse fenômeno é responsável por grande parte das mortes associadas ao câncer, pois, quando as células invadem órgãos vitais, como o cérebro, pulmões e fígado, o tratamento se torna significativamente mais desafiador. No caso do câncer de mama, por exemplo, a metástase é uma das principais causas de mortalidade entre as mulheres, o que torna o controle e prevenção desse processo ainda mais críticos.
Os tratamentos tradicionais contra o câncer focam principalmente na destruição das células tumorais, mas muitos não são eficazes para impedir que as células cancerígenas se espalhem. É nesse cenário que a digoxina entra em cena, oferecendo uma nova perspectiva para combater a metástase.
O que é a digoxina e como ela pode combater a metástase?

A digoxina é um medicamento antigo, extraído da planta dedaleira (Digitalis lanata), e é utilizado no tratamento de insuficiência cardíaca e fibrilação atrial. O mecanismo de ação da digoxina é bloquear as bombas de sódio e potássio nas células do coração, ajudando a regular a quantidade desses íons dentro das células, o que resulta em contrações mais fortes e um ritmo cardíaco mais lento. No entanto, pesquisas mais recentes sugerem que esse efeito também pode ser aproveitado no tratamento de câncer.
A chave do potencial anticâncer da digoxina está na sua capacidade de afetar as células tumorais de maneira única. Quando a digoxina bloqueia as bombas de sódio e potássio, ela permite que mais cálcio entre nas células tumorais. Esse aumento de cálcio interfere nas junções celulares, estruturas que ajudam as células a se manterem unidas. Quando essas junções são enfraquecidas, as células cancerígenas, que se agrupam em “flocos”, se separam mais facilmente, dificultando a formação de novos tumores.
Um estudo realizado em modelos animais demonstrou que a digoxina pode reduzir a disseminação do câncer de mama, oferecendo uma nova abordagem no combate à metástase. No entanto, a verdadeira questão era saber se esse efeito poderia ser observado também em seres humanos.
O estudo clínico com digoxina

Com base nos resultados promissores em modelos de camundongos, os pesquisadores decidiram realizar um ensaio clínico com mulheres diagnosticadas com câncer de mama metastático. O objetivo do estudo era avaliar se a digoxina poderia reduzir o tamanho dos aglomerados de células tumorais circulantes (CTCs) no sangue dessas pacientes.
Durante o estudo, as participantes tomaram digoxina diariamente durante sete dias. O que os pesquisadores observaram foi que, após o tratamento, o tamanho dos aglomerados de células tumorais diminuiu em média 2,2 células por cluster. A pesquisa revelou que a digoxina foi capaz de reduzir os aglomerados de células cancerígenas de maneira significativa, embora os efeitos ainda tenham sido modestos. O mais positivo é que, até o momento, não houve efeitos colaterais graves associados ao uso do medicamento.
Apesar de promissores, os resultados do estudo ainda são preliminares e não definitivos. Alguns especialistas, como os Drs. Daniel Smit e Klaus Pantel, apontam que a diminuição dos aglomerados de células tumorais não é suficiente para parar a progressão do câncer por completo. A redução no tamanho dos clusters pode, teoricamente, diminuir a chance de o câncer se espalhar ainda mais, mas não impede o crescimento de tumores secundários que já estão presentes no corpo.
Outro ponto importante a ser considerado é que a digoxina não foi capaz de impedir que as células tumorais se agrupassem com células sanguíneas saudáveis, o que também pode contribuir para a disseminação do câncer. Portanto, a eficácia da digoxina, embora promissora, pode ser limitada e depende do estágio da doença.
Conclusão
A pesquisa envolvendo a digoxina é um exemplo brilhante de como medicamentos antigos podem ser reaproveitados para tratar doenças novas, trazendo uma lufada de esperança para o tratamento de câncer. Embora ainda seja cedo para tirar conclusões definitivas, os resultados iniciais são promissores e podem abrir caminho para tratamentos mais eficazes contra a metástase. Afinal, a luta contra o câncer é uma batalha constante, e cada nova descoberta nos aproxima de soluções mais eficazes para salvar vidas.