Todos nós nos preocupamos com a saúde do nosso corpo, mas nem todas as condições físicas são percebidas da mesma forma ou com a mesma intensidade. A prioridade, sem dúvida, é a manutenção da vida, com órgãos vitais como o cérebro, os pulmões e o coração sendo a principal preocupação. No entanto, embora não sejam órgãos vitais, a saúde sexual também ocupa um lugar importante em nossa vida cotidiana. Para os homens, problemas como a disfunção erétil podem ser profundamente impactantes, afetando sua autoestima e bem-estar psicológico. Mas, ao se aprofundar nas questões fisiológicas e evolutivas, surge uma pergunta interessante: os outros animais também enfrentam problemas de ereção?
O que é uma ereção do ponto de vista fisiológico?

Do ponto de vista fisiológico, a ereção masculina é um processo complexo que envolve a interação entre o sistema nervoso, o sistema vascular e os músculos. Quando o ambiente está propício à atividade sexual, o sistema nervoso autônomo é ativado, resultando na liberação de óxido nítrico, um vasodilatador que aumenta o fluxo sanguíneo para os corpos cavernosos do pênis, enquanto os músculos da região se contraem para bloquear a saída do sangue. Isso provoca o aumento da pressão arterial dentro do órgão, levando à ereção.
Esse processo é relativamente simples, mas, quando algo interfere no seu funcionamento — seja por problemas de saúde física ou psicológica —, pode haver dificuldades em manter uma ereção, impactando diretamente a função sexual.
O “osso do pênis”, báculo

Embora o processo de ereção seja bem documentado no ser humano, a presença de um osso no pênis, conhecido como báculo (ou osso peniano), é uma característica de muitos mamíferos. Este osso tem um papel fundamental em algumas espécies, pois auxilia na manutenção da ereção durante o coito, especialmente em espécies que precisam prolongar o tempo de cópula para garantir o sucesso reprodutivo.
Esse osso está localizado no eixo longitudinal do pênis e funciona como uma estrutura de apoio que permite que o macho permaneça ereto por mais tempo durante a cópula, sem a necessidade de manter a ereção unicamente por via da ativação do sistema vascular. Isso é especialmente útil em espécies onde o coito prolongado é vantajoso para a competição reprodutiva.
O tamanho e a forma do báculo variam enormemente entre as espécies. Em algumas, como os lêmures, o báculo é quase vestigial, enquanto em outras, como nas morsas, pode atingir impressionantes 65 cm de comprimento. Essa variedade de tamanhos e formas mostra a importância desse osso para a sobrevivência e a reprodução de muitas espécies de mamíferos.
Por que os humanos não têm o “osso do pênis”?

A questão que surge é: por que os humanos não possuem o báculo? Se o osso peniano é tão comum entre os mamíferos, o que levou os humanos a perder essa estrutura durante a evolução?
A explicação pode estar relacionada à mudança nos comportamentos reprodutivos ao longo da evolução dos hominídeos. Nos primatas poligâmicos, onde a competição sexual é intensa e a cópula prolongada é vantajosa, o báculo tende a ser mais desenvolvido. Ele ajuda a prolongar o tempo de cópula, impedindo que a fêmea copule com outros machos durante o processo, aumentando assim as chances de o macho “sortudo” transmitir seus genes.
Entretanto, ao longo do tempo, a evolução dos hominídeos levou a uma mudança nas estratégias reprodutivas. Acredita-se que há cerca de dois milhões de anos, a linhagem dos hominídeos, que inclui os ancestrais diretos dos humanos modernos, tenha se tornado mais monogâmica. Nesse cenário, a competição sexual pós-copulatória foi reduzida, o que diminuiu a necessidade do báculo. Além disso, a perda do gene que codifica a produção do báculo, resultante de uma mutação genética, poderia ter contribuído para a sua ausência na espécie humana.
A perda do “osso do pênis” e as consequências evolutivas

A perda do báculo nos humanos não é simplesmente uma desvantagem do ponto de vista biológico. Pelo contrário, ela reflete uma adaptação às novas necessidades reprodutivas. Em um cenário monogâmico, onde os machos e fêmeas permanecem juntos por longos períodos, a copulação prolongada se torna menos crucial. Isso implica que a necessidade de um osso de apoio para manter a ereção se tornou obsoleta.
Estudos evolutivos mostram que em espécies de primatas poligâmicos, como os chimpanzés, o báculo tende a ser mais desenvolvido, enquanto em espécies monogâmicas, o osso peniano pode ser menor ou inexistir. Um estudo com camundongos, em que um grupo foi forçado à monogamia, revelou que ao longo de várias gerações o tamanho do báculo diminuiu, confirmando que a evolução favoreceu a diminuição ou perda desse osso em ambientes de baixa competição sexual.
Quem realmente perde: homens ou mulheres?

Do ponto de vista evolutivo, a ausência do báculo nos humanos pode ser vista como uma adaptação positiva. Enquanto nos mamíferos poligâmicos, o báculo facilita a competição reprodutiva, nos humanos, onde a monogamia e a cooperação parental se tornaram mais prevalentes, a perda desse osso pode ter sido benéfica. Para os homens, a disfunção erétil pode representar um desafio, mas esse fato também reflete uma mudança nas pressões evolutivas. Ao perder o báculo, os machos humanos passaram a depender mais de fatores emocionais e psicológicos para a função sexual, o que pode ter levado a um maior vínculo entre os parceiros, essencial para a criação de filhos e a sobrevivência da espécie.
As fêmeas, por sua vez, podem não ter perdido tanto quanto se pensa, já que a ausência do báculo reduziu a necessidade de prolongar o coito, mas pode ter favorecido a estabilidade nas relações monogâmicas, com maiores garantias de cuidado parental e compromisso de ambos os parceiros.
Conclusão
O osso do pênis, ou báculo, é uma característica fascinante da biologia de muitas espécies, mas sua ausência nos seres humanos é um reflexo da mudança nas estratégias reprodutivas e sociais ao longo da evolução. A perda do báculo pode ter trazido benefícios tanto para os homens quanto para as mulheres, adaptando-se às novas condições de vida e à necessidade de fortalecer os laços familiares e sociais. Dessa forma, a ausência desse osso não deve ser vista como uma desvantagem, mas como uma adaptação que favoreceu a cooperação e o cuidado parental, fundamentais para o sucesso da nossa espécie.