O que está acontecendo no centro da terra? Descubra as mudanças no núcleo interno
2BXY20T Earth core. inner structure with geological layers. 3d rendering

O que está acontecendo no centro da terra? Descubra as mudanças no núcleo interno

As profundezas da Terra sempre despertaram uma curiosidade fascinante, com seus mistérios guardados a milhares de quilômetros abaixo de nossos pés. Mas, uma nova pesquisa acaba de revelar uma característica surpreendente sobre o núcleo interno do planeta: sua superfície pode estar se transformando, de maneira quase imperceptível, ao longo do tempo.

O estudo, publicado em 10 de fevereiro na renomada revista Nature, analisou ondas sísmicas originadas de terremotos que atravessaram a borda do núcleo interno, a impressionantes 5.150 quilômetros de profundidade. A descoberta, que causou alvoroço no mundo da geofísica, revela que, mesmo quando o núcleo interno estava em uma posição previamente observada, pequenas variações ocorreram — mudanças sutis, mas indicativas de um fenômeno inesperado.


O que isso significa?

Essas pequenas variações nas ondas sísmicas sugerem que, embora o núcleo interno seja sólido, a sua superfície pode mudar ao longo do tempo, como se estivesse se “modelando” por forças internas do próprio planeta. John Vidale, líder do estudo e sismologista da Universidade da Califórnia do Sul, explica que o movimento no núcleo externo — composto por metal derretido, principalmente ferro e níquel — pode estar influenciando o núcleo interno, agitando sua superfície e criando alterações em sua topografia.

Esse fenômeno ocorre na fronteira entre o núcleo interno e o núcleo externo, uma região de transição fascinante, onde a temperatura e pressão são tão extremas que o núcleo interno está justamente na sua “ponto de fusão”. Ou seja, é sólido, mas não completamente rígido. Essa flexibilidade aparente pode explicar por que a superfície do núcleo parece mudar de forma. As estimativas atuais sugerem que essas mudanças podem ser da ordem de centenas de metros, ou até mesmo quilômetros.


Como os cientistas estudam o núcleo interno?

Para entender melhor essas mudanças, Vidale e sua equipe utilizaram dados sísmicos de terremotos. Eles analisaram ondas sísmicas que viajaram por dentro da Terra e atravessaram o núcleo interno. Em um estudo anterior, realizado por Vidale, os cientistas haviam observado que o núcleo interno não rotacionava de forma constante, o que levou a debates sobre o comportamento dinâmico dessa camada profunda da Terra.

Em um esforço para mapear as alterações na superfície do núcleo, a equipe usou pares de terremotos que originaram suas ondas a partir das Ilhas Sandwich do Sul, no Oceano Atlântico Sul, entre 1991 e 2023. As ondas sísmicas que passaram pelo núcleo interno foram analisadas por receptores na América do Norte e do Sul. O estudo revelou que, enquanto as ondas que atravessaram o núcleo interno em profundidades mais baixas não mostraram grandes mudanças ao longo do tempo, as ondas que “rasparam” a superfície do núcleo, ao alcançar as camadas mais externas, apresentaram variações, o que sugere que a superfície pode ser dinâmica e mutável.


O mistério do movimento do núcleo interno

A questão do movimento do núcleo interno da Terra continua a gerar debates. Desde os primeiros estudos dos anos 1990, surgiram discussões sobre se o núcleo interno de fato gira ou se apenas experimenta alterações em sua fronteira com o núcleo externo. Alguns cientistas acreditam que o núcleo pode se mover de maneira irregular, enquanto outros defendem que o que ocorre é mais uma mudança na forma da superfície do núcleo, mas sem um movimento rotacional claro.

Bruce Buffett, geofísico da Universidade da Califórnia, Berkeley, que não esteve envolvido nesse estudo específico, pontua que, embora essa diferença de interpretação pareça acadêmica, ela é crucial. A solidificação do núcleo interno, por exemplo, é um dos principais fatores que impulsionam os movimentos do calor no núcleo externo, que, por sua vez, gera o campo magnético da Terra. No futuro, entender como e quando o núcleo interno começou a solidificar poderá trazer respostas importantes sobre a história do campo magnético do planeta.


O que está influenciando o núcleo interno?

Diversas teorias tentam explicar as mudanças na superfície do núcleo interno. Entre elas, estão a possibilidade de que vulcões profundos ou deslizamentos subterrâneos estejam gerando distúrbios nas camadas mais internas da Terra. No entanto, a hipótese mais aceita por Vidale é a de que o movimento turbulento do núcleo externo — em constante agitação devido ao calor e à pressão — acaba por afetar a camada mais externa do núcleo interno, criando um efeito ondulatório.

“É fascinante pensar que a superfície do núcleo interno é dinâmica”, afirma Vidale. “Ela parece estar respondendo às forças em constante mudança geradas pela rotação da Terra, provavelmente se movendo de maneira perceptível.” No entanto, como ele mesmo aponta, ainda há muito a ser compreendido sobre esse fenômeno, especialmente no que diz respeito às dimensões e à abrangência dessas mudanças.


O futuro das pesquisas

De acordo com Yi Yang, geofísico da Universidade de Nanjing e coautor de um estudo anterior sobre a rotação do núcleo, os dados ainda são limitados, uma vez que eles se referem apenas à camada mais externa do núcleo interno. “Será necessário acumular mais dados para compreender melhor o comportamento do núcleo”, afirma Yang. Xiaodong Song, da Universidade de Pequim, também acredita que novas surpresas podem surgir à medida que mais pesquisas sejam realizadas.

O que é certo é que estamos apenas começando a explorar os segredos do núcleo interno da Terra. As descobertas feitas até agora abrem portas para uma compreensão mais profunda não apenas da dinâmica interna do nosso planeta, mas também dos processos que governam seu campo magnético e a história de sua formação.


Conclusão

A superfície do núcleo interno da Terra, que até então parecia imutável, revela-se agora como um território dinâmico, sujeito a mudanças subtis e complexas. Através das ondas sísmicas e das pesquisas inovadoras dos cientistas, estamos começando a entender que o centro da Terra é muito mais ativo do que imaginávamos. As próximas décadas de estudos prometem trazer ainda mais revelações fascinantes sobre o interior do nosso planeta, ajudando-nos a entender os processos geofísicos que moldaram e continuam a moldar o nosso mundo.


Comments

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *