Poucas tecnologias cativaram a imaginação humana da mesma forma que os robôs. A ideia de máquinas que podem andar e falar como nós tem sido um pilar da ficção científica por décadas. No entanto, a realidade dos robôs tem sido bem mais modesta — a maior parte dos robôs do mundo real são braços mecânicos, relegados ao trabalho repetitivo e cansativo nas fábricas. Contudo, os avanços recentes tanto na inteligência artificial (IA) quanto no hardware robótico estão tornando cada vez mais próxima a realização de nossos sonhos de robôs inteligentes e humanoides.
1921 — A invenção do termo “robô”

A história da ideia de “humanos artificiais” remonta a tempos antigos. Desde os Golems da tradição judaica até os servos mecânicos do deus grego Hefesto, diversas culturas imaginaram figuras que desafiavam os limites da realidade. Porém, o termo “robô” como conhecemos hoje foi introduzido pelo escritor tcheco Karel Čapek em sua peça de 1921, R.U.R. (Rossumovi Univerzální Roboti). O termo deriva da palavra tcheca robota, que significa “trabalho forçado”. A obra apresenta robôs feitos de matéria orgânica sintética que se rebelam contra seus criadores humanos — uma narrativa que ecoaria em várias obras subsequentes.
1942 — As três leis da robótica de Isaac Asimov

A ficção científica tornou-se uma das maiores fontes de inspiração para o desenvolvimento dos robôs. Um dos principais nomes dessa era foi Isaac Asimov, que, em sua obra Runaround (1942), apresentou as Três Leis da Robótica. Asimov imaginou que essas leis governariam o comportamento dos robôs em sua ficção:
- Os robôs não devem causar dano a um ser humano, ou, por omissão, permitir que um ser humano venha a ser prejudicado.
- Os robôs devem obedecer às ordens dadas pelos seres humanos, exceto quando tais ordens entrarem em conflito com a primeira lei.
- Os robôs devem proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com as duas primeiras leis.
Embora fictícias, essas leis influenciaram profundamente a forma como se pensou a ética em torno da IA e dos robôs no mundo real.
1961 — O primeiro robô industrial

A transição das ideias da ficção científica para a realidade não demorou a acontecer. Nos anos 1950, o inventor George Devol, em parceria com o empresário Joseph Engelberger, fundou a Unimation, a primeira empresa de robótica do mundo. Em 1961, a empresa lançou o Unimate, um braço robótico utilizado na linha de produção da General Motors. Esse braço hidráulico era capaz de realizar tarefas repetitivas com precisão, sendo um dos marcos fundamentais para a industrialização dos robôs.
1966 — O primeiro robô móvel inteligente

Embora a mecânica dos robôs estivesse avançada, ainda faltava inteligência para que eles agissem autonomamente. Em 1966, o Shakey, desenvolvido no Instituto de Pesquisa de Stanford, foi o primeiro robô móvel inteligente. Equipado com câmeras e sensores, ele podia navegar por ambientes, evitar obstáculos e realizar tarefas simples como abrir portas e empurrar caixas, tudo de forma autônoma. Essa foi uma das primeiras implementações práticas da IA em robôs.
1969 — O braço Stanford revoluciona a robótica industrial

Em 1969, Victor Scheinman, um estudante da Universidade de Stanford, criou o Stanford Arm, um braço robótico elétrico que seria a base para a indústria de robôs industriais. Com seis graus de liberdade, o braço foi controlado por computador e representou um avanço significativo em relação ao Unimate. Esse desenvolvimento pavimentou o caminho para outros robôs industriais, como o PUMA da Unimation, que se tornaria um marco nas linhas de montagem automotiva.
1970 — O primeiro rover robótico na lua

A exploração espacial também se beneficiou dos avanços na robótica. Em 1970, a União Soviética enviou o Lunokhod 1, o primeiro rover robótico para a Lua. O veículo solar movia-se de forma autônoma, realizando testes no solo lunar e enviando dados para a Terra. Ele permaneceu em operação por quase um ano, muito além de sua vida útil prevista.
1990 — A revolução da IA para robôs com Rodney Brooks

Na década de 1980, robôs industriais já eram comuns, mas a ideia de máquinas autônomas e flexíveis ainda estava distante. Rodney Brooks, um robótico australiano, propôs uma nova abordagem. Em vez de tentar simular a inteligência humana de forma abstrata, Brooks sugeriu que os robôs poderiam aprender através de feedbacks simples entre percepção e ação, inspirando-se no comportamento dos animais. Seu trabalho ajudou a abrir caminho para os robôs autônomos que conhecemos hoje.
1996 — O primeiro robô humanoide da Honda

Em 1996, a Honda revelou o P2, o primeiro robô humanoide capaz de andar independentemente sobre duas pernas. Esse avanço foi um marco no campo da locomoção bípede, uma das maiores barreiras para a robótica. Mais tarde, a empresa desenvolveu o ASIMO, um dos robôs mais icônicos do mundo, estabelecendo o padrão para a robótica humanoide.
2000 — O robô cirúrgico Da Vinci

Enquanto a maioria dos robôs comerciais estava focada em tarefas industriais, a empresa Intuitive Surgical concentrou seus esforços na área da saúde. Em 2000, a da Vinci foi aprovada pela FDA, sendo a primeira tecnologia robótica usada em cirurgia minimamente invasiva. Este sistema de quatro braços permitiu aos cirurgiões realizar procedimentos com uma precisão incrível, transformando a medicina moderna.
2010 — O projeto de carro autônomo do Google

A Google entrou em cena no campo da robótica ao lançar seu projeto de carros autônomos em 2009. Em 2010, a empresa revelou seu avanço significativo: carros que podiam dirigir sem intervenção humana. O projeto foi posteriormente rebatizado de Waymo e, em 2017, iniciou testes públicos de táxis autônomos em Phoenix, Arizona.
2012 — O desafio de robótica DARPA

Lançado pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos (DARPA), o DARPA Robotics Challenge de 2012 incentivou a criação de robôs semiautônomos capazes de realizar tarefas em cenários de desastre. As equipes competidoras tinham que desenvolver robôs capazes de caminhar por escombros, subir escadas e até dirigir veículos. Esse desafio impulsionou muitas inovações na robótica humanoide, com destaque para o robô Atlas, desenvolvido pela Boston Dynamics.
2020 — O primeiro robô bípede comercializado

Em 2020, a Agility Robotics foi a primeira empresa a comercializar um robô bípede, o Digit. Embora não seja totalmente humanoide, o Digit tem a aparência de um pequeno humano e foi projetado para ambientes industriais, como armazéns. Com isso, iniciou-se uma nova era na robótica comercial, com outras empresas, como Tesla e Figure, seguindo o exemplo.
A história dos robôs é uma jornada impressionante de inovação e progresso. De conceitos fictícios a marcos tecnológicos reais, cada passo nos aproximou mais de um futuro onde máquinas inteligentes podem interagir, trabalhar e até viver conosco. E, com os avanços contínuos em inteligência artificial e robótica, a fronteira entre ficção e realidade continua a se estreitar, prometendo um mundo onde os robôs humanoides não sejam apenas uma invenção de filmes, mas uma parte integrante do nosso cotidiano.