Nós realmente entendemos os cogumelos? Escondidos no solo, com suas redes miceliais finas como fios pulsando como um pequeno cérebro, esses organismos fascinam cientistas e curiosos há gerações. Mas o que um cogumelo poderia fazer se pudesse “andar” por conta própria?
Essa pergunta surreal motivou um experimento incrível realizado por pesquisadores da Universidade Cornell, nos EUA, e da Universidade de Florença, na Itália. A equipe decidiu colocar o cogumelo Pleurotus eryngii, conhecido como o “rei dos cogumelos”, no comando de pequenos robôs. O resultado? Um cogumelo literalmente dirigindo por aí!
Como um cogumelo vira piloto?

Com uma abordagem digna de filmes de ficção científica, os cientistas usaram a atividade eletrofisiológica do cogumelo para transformar sinais do ambiente em comandos para dispositivos mecânicos. Em outras palavras, criaram uma “máquina bio-híbrida” onde o micélio não apenas interage com o ambiente, mas o controla diretamente.
“Fazendo o micélio crescer na eletrônica do robô, conseguimos criar uma máquina bio-híbrida que sente e responde ao ambiente,” explica Rob Shepherd, cientista de materiais da Cornell. Assim nasceu o “cogurobô”, uma fusão impressionante entre biologia e robótica.
Fungos: os pequenos engenheiros da natureza

O reino dos fungos é uma verdadeira mina de ouro para inovações tecnológicas. Além de serem fáceis de cultivar, eles prosperam em condições adversas onde outros organismos falhariam. No solo, suas redes miceliais reagem a mudanças ambientais enquanto buscam nutrientes, emitindo sinais semelhantes aos nossos impulsos neurais. Agora, cientistas aprenderam a interpretar essas “conversas secretas”.
Por exemplo, ao expor o micélio do P. eryngii à luz UV, os cientistas observaram que ele emitia sinais específicos. Com algoritmos avançados, esses sinais foram traduzidos em comandos, permitindo ao cogumelo controlar um robô. Isso incluiu mover rodas ou manipular membros mecânicos, criando uma experiência de interação entre cogumelo e máquina.
Robôs sob o controle de cogumelos

Os experimentos resultaram em dois sistemas fascinantes: um robô mole com cinco membros e um veículo com quatro rodas, ambos obedecendo aos sinais emitidos pelo cogumelo. Mais impressionante ainda, os cientistas conseguiram ajustar os comandos naturais do micélio, demonstrando que é possível usar suas habilidades sensoriais para objetivos práticos.
“Não se trata apenas de controlar um robô,” afirma Anand Mishra, biorrobótico de Cornell. “É sobre criar uma conexão com um sistema vivo. Quando entendemos os sinais, é como se estivéssemos ouvindo os pensamentos do cogumelo.”
Um futuro bio-híbrido

Embora possa parecer uma ideia excêntrica, o cogurobô tem potencial para soluções práticas. Imagine dispositivos que ajustem automaticamente nutrientes no solo, monitorem poluentes ou respondam a mudanças ambientais. Além disso, sistemas baseados em micélio poderiam ser integrados à saúde humana para detectar alterações em nosso corpo.
Os cogumelos têm segredos que apenas começamos a desvendar. Quem sabe, um dia, eles não nos contem até o que sonham, caso não estejam muito ocupados dirigindo por aí!