O início de um novo ano é sempre um convite a mudanças. Muitos de nós aproveitam essa época para refletir sobre hábitos antigos e buscar novos caminhos. No entanto, um hábito em particular tende a ser mais difícil de abandonar: a procrastinação. Seja para terminar um trabalho, responder um e-mail ou até sair para correr, algumas tarefas parecem quase insuportáveis. A tendência natural é deixá-las para depois, ou até nunca completá-las. Mas por que procrastinamos? E, mais importante, será que podemos controlar esse impulso?
O que está por trás da procrastinação?

Fuschia Sirois, professora de psicologia na Universidade de Durham, no Reino Unido, explica que, em sua essência, a procrastinação está ligada ao evitar. No entanto, não é tanto a tarefa em si que causa o desconforto, mas sim as emoções associadas a ela. Imagine que você tem que escrever as primeiras linhas de um trabalho universitário. As dúvidas sobre como começar, o medo de errar ou de não fazer o trabalho da maneira certa podem ser assustadoras o suficiente para fazer você evitar a tarefa.
De acordo com Sirois, a procrastinação é uma forma específica de adiamento que é desnecessária e voluntária. Ou seja, a pessoa adia uma tarefa, mesmo sabendo da sua importância, e sem uma razão real, como uma emergência ou a necessidade de priorizar outras atividades. Em muitos casos, a pessoa sabe que o adiamento pode ter consequências negativas, mas ainda assim escolhe procrastinar.
A relação entre procrastinação e emoções

A procrastinação é um fenômeno psicológico complexo, onde a dificuldade de lidar com emoções negativas desempenha um papel crucial. Estudo realizado por Sirois e seus colegas em 2021 descobriu que estudantes universitários com mais matéria cinza no córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo, uma área do cérebro ligada ao autocontrole, eram menos propensos à procrastinação. Esses estudantes apresentaram mais conexões neurais entre essa região e as áreas frontais do cérebro, o que lhes ajudava a regular as emoções negativas e a focar em benefícios de longo prazo, evitando as armadilhas do adiamento.
Por outro lado, os estudantes que tinham menos conexões entre essas áreas eram mais inclinados a procrastinar, muitas vezes sacrificando recompensas futuras para aliviar o desconforto imediato. A pesquisa aponta que a dificuldade de regular as emoções, especialmente o medo do fracasso ou da crítica, pode ser uma das principais causas desse comportamento.
A procrastinação e o transtorno de déficit de atenção (TDAH)

Pessoas com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) enfrentam desafios ainda maiores quando se trata de procrastinação. Um estudo de 2018 mostrou que a amígdala, área do cérebro responsável pela detecção de ameaças, é maior e mais sensível em pessoas que procrastinam. Esse aumento na sensibilidade ao medo pode transformar até mesmo tarefas pequenas, como escrever um e-mail, em desafios insuperáveis. O simples pensamento de cometer um erro pode gerar uma resposta emocional tão forte que acaba desencadeando a procrastinação.
Além disso, a conexão fraca entre a amígdala e o córtex cingulado anterior dorsal (responsável por determinar como reagimos a ameaças) também foi associada a uma maior tendência a procrastinar. A procrastinação, então, se torna uma forma de evitar o desconforto emocional, ainda que isso signifique prejudicar o desempenho futuro.
Fatores genéticos e ambientais

Como muitos comportamentos humanos, a procrastinação também pode ter uma base genética. Estudos sugerem que a procrastinação está relacionada à impulsividade em nível genético, o que significa que essa característica pode ser herdada. No entanto, Sirois adverte que, embora existam influências biológicas, isso não significa que você esteja “preso” a esse comportamento. Com a abordagem certa, é possível aprender a gerenciar a procrastinação.
Além disso, fatores ambientais desempenham um papel importante. Situações de estresse, como o luto ou a perda de um ente querido, podem drenar nossos recursos de enfrentamento, fazendo com que a procrastinação se torne uma forma de lidar com a dor emocional, ainda que de maneira prejudicial. Nesse cenário, o adiamento se torna uma maneira fácil, porém ineficaz, de escapar de uma realidade desconfortável.
O ciclo vicioso da procrastinação

Embora a procrastinação possa parecer uma forma de alívio imediato, ela frequentemente acaba criando mais estresse a longo prazo. O fato de deixar uma tarefa pendente faz com que ela se torne uma pré-ocupação constante, gerando ansiedade e prejudicando a saúde mental. Isso pode resultar em baixa performance acadêmica, dificuldades financeiras e até problemas de saúde.
O ciclo de procrastinação pode ser comparado a uma bola de neve: quanto mais adiamos, mais difícil fica de lidar com a situação. Esse comportamento pode levar a um desgaste emocional contínuo, dificultando ainda mais o progresso.
Como superar a procrastinação?

Felizmente, há boas notícias para quem deseja acabar com o ciclo da procrastinação. Sirois sugere algumas estratégias para combater esse hábito tão comum, como:
- Auto-compaixão: Ser gentil consigo mesmo pode ser mais eficaz do que a autocrítica. Perdoe-se por ter procrastinado e comece novamente. A autocompaixão ajuda a reduzir a culpa, que muitas vezes é uma das grandes impulsionadoras da procrastinação.
- Quebre a tarefa em pedaços menores: Se uma tarefa parece imensa e insuportável, divida-a em pequenas partes. Isso torna a tarefa mais gerenciável e reduz a sensação de sobrecarga.
- Entenda suas emoções: Quando se sentir tentado a procrastinar, faça uma pausa e tente entender por que você está evitando aquela tarefa. O que está causando o desconforto? Identificar a raiz do problema pode ajudá-lo a tomar decisões mais informadas e, assim, agir.
- Estabeleça recompensas: Associe algo positivo à conclusão da tarefa. Pode ser uma pausa para um café, um episódio de sua série favorita ou qualquer outra coisa que te motive.
Conclusão
Portanto, se a sua resolução de Ano Novo for acabar com a procrastinação, lembre-se de que a jornada começa com um passo simples: ser gentil consigo mesmo. Ao entender as raízes desse comportamento e adotar técnicas para gerenciá-lo, é possível reduzir significativamente a procrastinação e alcançar seus objetivos de forma mais eficaz.
Se você, assim como eu, tem uma lista de coisas para fazer, mas ainda encontra dificuldades para começar, talvez este seja o momento certo para dar aquele primeiro passo. O segredo está em agir, e com paciência, você pode fazer deste ano o ano da ação!