Imagine poder sentir o toque de um amigo, mesmo a milhares de quilômetros de distância, ou realizar uma cirurgia com precisão a partir de outro continente. Embora pareçam cenas de um futuro distante, a evolução da internet pode tornar isso uma realidade mais próxima do que imaginamos. Graças a uma inovação recente no campo das comunicações digitais, o conceito de Internet Tátil está ganhando forma e pode mudar a maneira como interagimos com o mundo online.
O surgimento do “Tactile Internet”

Pesquisadores da Universidade Técnica de Munique (TUM), na Alemanha, desenvolveram um padrão inovador denominado Haptic Codecs for the Tactile Internet (HCTI), que permite a transmissão de informações táteis, ou seja, sensações de toque, ao longo de uma rede digital. Isso inclui a sensação de pressão, textura e até a resistência de objetos, criando a possibilidade de feedback tátil em tempo real.
A grande sacada por trás do HCTI é a redução do tamanho dos pacotes de dados que são transmitidos pela internet. Ao contrário de outras tecnologias, que requerem pacotes enormes e alta largura de banda para transmitir informações táteis, o HCTI utiliza técnicas de compressão de dados para reduzir o número de informações enviadas, sem comprometer a qualidade da sensação. Isso possibilita a comunicação bidirecional, permitindo que tanto o envio quanto o recebimento de toques aconteçam com precisão e de forma quase instantânea.
Como funciona o HCTI?

Transmitir informações táteis através de uma conexão remota envolve um alto nível de complexidade. Para garantir que a sensação de toque seja realista e precisa, pacotes de dados precisam ser enviados para lá e para cá milhares de vezes por segundo. Em um sistema tradicional, esses pacotes são enviados até 4.000 vezes por segundo, o que exige uma rede de alta capacidade e baixa latência.
No entanto, o HCTI simplifica esse processo ao reduzir a frequência de envio para 100 vezes por segundo, ainda dentro do limiar de percepção humana. Isso permite uma transmissão eficaz, sem sobrecarregar as redes, algo essencial para futuras aplicações que exigem alta precisão e resposta em tempo real.
Como o HCTI se compara a outras tecnologias?

Embora tecnologias como JPEG e MP3 já compressam imagens e sons para facilitar sua transferência, o HCTI se destaca por ser um formato bidirecional para o envio de informações táteis. Em outras palavras, ele não só envia toques, mas também recebe informações sobre como o toque foi sentido e responde de volta, garantindo que o controle seja preciso e imediato.
O funcionamento do HCTI pode ser comparado ao dos codecs tradicionais, como o JPEG, mas em vez de comprimir imagens, ele comprime as sensações físicas. Isso permite que as interações remotas, como controlar um robô ou jogar um videogame online, sejam mais imersivas, realistas e com um nível de resposta nunca visto antes.
Potenciais aplicações- De cirurgias remotas a jogos online

As implicações dessa nova tecnologia são vastas e podem transformar diversas áreas, especialmente na medicina e no entretenimento. Um dos principais avanços seria na telecirurgia. Imagine um cirurgião em um país, operando um robô cirúrgico em tempo real em outro local, com a precisão de sentir o que o robô está tocando, cortando ou manipulando. O HCTI permite esse tipo de operação remota com precisão, tornando possível que especialistas em qualquer lugar do mundo possam realizar procedimentos delicados sem estarem fisicamente presentes.
Além disso, o HCTI pode revolucionar a forma como vivenciamos jogos online e realidade virtual (RV). Ao permitir que os jogadores sintam a pressão de um aperto de mão ou a resistência ao empurrar um objeto no jogo, a experiência se tornaria muito mais imersiva. Os jogadores poderiam sentir literalmente as texturas, formas e até a dureza dos objetos virtuais, tornando o jogo ainda mais realista.
Outro exemplo interessante seria nos cinemas 4D, onde as sensações táteis podem ser combinadas com os efeitos visuais e sonoros para criar uma experiência de imersão completa, como sentir a vibração do chão ou a resistência de um movimento de vento virtual.
Desafios e limitações

Apesar das enormes possibilidades, a tecnologia ainda enfrenta alguns desafios. A principal limitação do HCTI é que a intensidade das sensações táteis pode ser ligeiramente reduzida. Isso significa que a força aplicada por um robô pode ser diluída ao ser retransmitida para o controlador, fazendo com que superfícies duras, por exemplo, pareçam mais macias do que realmente são. No entanto, para a maioria das aplicações, essa leve diminuição na precisão sensorial pode não ser um problema significativo.
Além disso, a latência da rede ainda é uma consideração importante, especialmente em conexões internacionais. A distância, como entre a Alemanha e o Japão, pode introduzir um atraso de cerca de 30 milissegundos para os pacotes de dados, o que pode ser perceptível para algumas aplicações sensíveis ao tempo.
O futuro da internet tátil
O surgimento do HCTI é apenas o começo de uma nova era para a internet. Com a capacidade de transmitir e receber informações táteis de forma eficaz e em tempo real, novas fronteiras estão sendo abertas. À medida que a internet das coisas (IoT) e as redes 5G e 6G se expandem, a integração do tato digital pode ser uma das maiores inovações dos próximos anos.
Imagine um futuro onde podemos tocar, sentir e interagir com o mundo ao nosso redor, independentemente da distância física que nos separa. A internet do toque está apenas começando, e suas aplicações podem transformar a maneira como trabalhamos, nos divertimos e até cuidamos uns dos outros. A era do tato virtual está chegando, e com ela, novas possibilidades incríveis de conexão e experiência humana.