Nos últimos anos, a computação quântica tem atraído a atenção de cientistas e empresas ao redor do mundo, prometendo resolver problemas complexos que são impossíveis para os computadores tradicionais. Recentemente, cientistas da Microsoft deram um passo significativo rumo a essa revolução tecnológica ao criar um novo chip quântico, o Majorana 1. Este chip utiliza um material inédito que pode acessar um novo estado da matéria, abrindo caminho para o desenvolvimento de qubits mais estáveis, escaláveis e eficientes. O que torna essa descoberta ainda mais fascinante é a utilização de partículas subatômicas enigmáticas chamadas férmions de Majorana, que podem transformar a computação quântica como a conhecemos.
O que são qubits e por que eles são importantes?

Os qubits são a base dos computadores quânticos, ao contrário dos bits tradicionais, que podem assumir apenas os valores 0 ou 1. Os qubits, devido às leis da mecânica quântica, podem representar múltiplos estados simultaneamente, o que permite aos computadores quânticos realizar cálculos em velocidades exponencialmente mais rápidas. No entanto, a estabilidade dos qubits tem sido um grande desafio. Qubits feitos de materiais como metais supercondutores são sensíveis a interferências externas, o que pode resultar em erros de cálculo. Esse é o motivo pelo qual a criação de um qubit mais robusto é um marco tão importante para o avanço da computação quântica.
A inovação do chip Majorana 1

O Majorana 1, protótipo de chip quântico desenvolvido pela Microsoft, é composto por oito qubits topológicos, que são formados por um material de condução especial chamado topocondução. Este material tem a capacidade única de alcançar o estado topológico da matéria, uma fase especial da matéria que é capaz de manipular informações quânticas com maior segurança e estabilidade.
O que torna o chip Majorana 1 especial é o tipo de qubit utilizado: o qubit topológico. Este qubit é mais estável, menor e menos dependente de energia do que os qubits tradicionais. Além disso, ele tem uma característica que pode revolucionar a forma como os computadores quânticos são escalados no futuro. Isso ocorre porque os qubits topológicos são menos propensos a erros causados por interferências externas, o que é uma grande vantagem para os sistemas quânticos de grande escala.
A descoberta do Férmion de Majorana

Para alcançar esse avanço, os cientistas precisaram observar e controlar uma partícula subatômica chamada férmion de Majorana (ou MZM). Proposta pelo matemático Ettore Majorana em 1937, essa partícula é teórica e possui a incrível propriedade de ser sua própria antipartícula. Em outras palavras, o férmion de Majorana poderia se aniquilar com outro férmion de Majorana ou, surpreendentemente, coexistir estável quando emparelhado, o que seria ideal para armazenar informações quânticas.
Essa ideia, embora fascinante, permaneceu por muitos anos apenas no campo das teorias. Foi só com os avanços recentes em ciência dos materiais que os pesquisadores conseguiram “criar” essas partículas sob condições muito específicas, como temperaturas próximas ao zero absoluto e a aplicação de campos magnéticos. Ao atingir essas condições, os cientistas conseguiram manipular os férmions de Majorana e usá-los como base para os novos qubits topológicos.
O processo de construção do qubit topológico

Construir um qubit topológico não é uma tarefa simples. Para criar um qubit, os pesquisadores usaram uma estrutura chamada nanofios, que são dispostos em forma de “H”. Cada qubit é composto por dois fios de topocondução conectados por um fio supercondutor. Para induzir a presença de férmions de Majorana, os cientistas resfriaram a estrutura a temperaturas extremamente baixas e aplicaram campos magnéticos. Isso gerou quatro MZMs em pontos específicos da estrutura, permitindo que a informação quântica fosse manipulada de forma mais eficiente e estável.
Esses qubits são tão pequenos que cabem em menos de 10 micrômetros, muito menores do que os qubits supercondutores. Para medir o estado quântico desses qubits, os cientistas usaram um ponto quântico — um pequeno dispositivo semicondutor — para detectar a presença do estado quântico, com uma precisão de aproximadamente 99%.
O futuro da computação quântica

O grande objetivo dos cientistas da Microsoft com o Majorana 1 é escalar esse sistema de qubits topológicos para criar chips quânticos com até um milhão de qubits. Este avanço permitirá que os computadores quânticos lidem com problemas em áreas como medicina, ciência dos materiais e inteligência artificial de forma muito mais eficiente do que os computadores clássicos.
De acordo com os pesquisadores, a arquitetura utilizada para construir os qubits topológicos é mais simples e promete acelerar o caminho até a construção de chips quânticos de grande escala. Em poucas décadas, é possível que esses chips possam ser usados em uma variedade de campos científicos e tecnológicos, solucionando problemas complexos que atualmente estão além da capacidade dos computadores mais potentes disponíveis.
Conclusão
O desenvolvimento do chip Majorana 1 e a introdução do qubit topológico marcam um avanço crucial na computação quântica. A estabilidade dos qubits, a eficiência energética e a escalabilidade do sistema tornam essa tecnologia uma das mais promissoras para o futuro. À medida que a Microsoft e outras empresas continuam a fazer progressos em direção a chips quânticos com milhões de qubits, as possibilidades para a ciência e a tecnologia se expandem de maneiras incríveis.
Ainda estamos apenas no início dessa jornada quântica, mas o Majorana 1 pode ser o primeiro passo em direção a uma revolução que transformará profundamente a forma como lidamos com informações e resolvemos problemas complexos. O futuro da computação quântica está se tornando cada vez mais palpável, e as próximas décadas podem revelar uma era de descobertas científicas e tecnológicas que hoje parecem saídas de um filme de ficção científica.