Existe um ditado popular que afirma: “Quem casa, quer casa.” Embora a frase se refira à formação de família e à busca por independência, ela também pode ser interpretada de forma metafórica: ao crescer, muitos desejam “sair do ninho” e construir suas próprias vidas. Esse desejo de autonomia, no entanto, nem sempre significa distância física da família de origem. Algumas pessoas optam por morar próximas aos pais e irmãos, enquanto outras preferem se afastar.
Culturalmente, também há variações significativas. Em algumas sociedades, é comum que grandes famílias vivam juntas, enquanto em outras prevalece a família nuclear. Uma pesquisa recente sugere que a proximidade ou distância física dos parentes pode influenciar o modo como enxergamos o mundo de maneiras surpreendentes.
Viver perto da família altera seus julgamentos

Analise mentalmente as seguintes questões:
- Você apoia a pena de morte?
- Considera a guerra uma forma lícita de defender um país?
- Alistaria-se para lutar em uma guerra?
De acordo com pesquisadores, as respostas a essas perguntas podem ser influenciadas pela proximidade ou distância que você tem de sua família. Um estudo analisou seis pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Filipinas e Gana, avaliando como viver em um ambiente com muitos ou poucos parentes pode afetar psicologicamente os indivíduos.
Segundo Joshua Ackerman, professor de psicologia da Universidade de Michigan, “esses efeitos surgem porque viver em áreas com muitos parentes, ou simplesmente sentir que há muitos parentes por perto, muda a importância que as pessoas dão ao apoio aos outros (e à garantia de que eles não sejam feridos).”
Comportamentos pró-grupo e extremos

Os pesquisadores notaram que pessoas que vivem em sistemas com mais parentes próximos tendem a adotar comportamentos pró-grupo mais extremos. Por exemplo, elas podem se mostrar mais dispostas a lutar em uma guerra pelo seu país. Isso se deve à ideia de que a unidade familiar fortalece o senso de proteção coletiva.
Por outro lado, a convivência próxima também pode desencadear comportamentos punitivistas. Indivíduos que vivem perto da família tendem a defender medidas como a pena de morte, justificando-a como uma forma de prevenir danos aos membros da família ou de punir aqueles que possam prejudicá-los.
Proximidade familiar e julgamento moral

Oliver Sng, professor assistente de ciências psicológicas da Universidade da Califórnia e coautor da pesquisa, ressalta que viver próximo aos parentes traz benefícios e desafios. “Você naturalmente se sente mais conectado com aqueles ao seu redor, já que muitos deles são algum tipo de família. Mas isso também significa que há mais pessoas ao seu redor que você precisa proteger. É por isso que vemos pessoas vivendo perto de parentes apoiando a punição de comportamentos perigosos.”
Essa pesquisa é significativa porque destaca os efeitos psicológicos de uma dimensão pouco examinada do sistema social: a influência das relações familiares em nossos comportamentos e crenças. Em outras palavras, nossas ações e pensamentos são moldados não apenas por questões sociais coletivas e culturais, mas também pelo contexto familiar imediato.
Reflexão final
A pesquisa reforça a ideia de que a família desempenha um papel fundamental em nossas vidas, indo além das relações emocionais. A proximidade física ou psicológica com os parentes pode influenciar nossas opiniões, comportamentos e até mesmo nossas convicções morais. Reconhecer esses impactos pode ser o primeiro passo para compreender melhor como nossas escolhas são moldadas pelas relações sociais que cultivamos.