Para esclarecer equívocos que circulam na Internet sobre as crenças filosóficas de Carl Sagan em relação à existência de Deus, ele fez um comentário significativo em Conversations with Carl Sagan (1981), no qual admite ser agnóstico quanto à questão de Deus. Nesse contexto, ele afirmou:
“Um ateu é alguém que tem certeza de que Deus não existe, alguém que tem provas irrefutáveis contra a existência de Deus. Não conheço essa evidência convincente. Como Deus pode ser relegado a tempos e locais remotos e causas últimas, teríamos que saber muito mais sobre o universo do que agora para ter certeza de que Deus não existe. Para ter certeza da existência de Deus e ter a certeza da não existência de Deus parece-me ser os extremos confiantes em um assunto tão cheio de dúvida e incerteza, o que inspira pouca confiança.” – (Carl Sagan, em Wakin, Edward – maio de 1981. “God and Carl Sagan: Is the Cosmos Big Enough for Both of Them?”).
Vida Pessoal e Crenças
Carl Sagan foi casado três vezes: em 1957 com a bióloga Lynn Margulis, com quem teve os filhos Dorion e Jeremy Sagan; em 1968 com a artista Linda Salzman, mãe de Nick Sagan; e em 1981 com a autora Ann Druyan, com quem teve os filhos Alexandra Rachel (Sasha) e Samuel Sagan Democritus Sagan. Seu casamento com Ann Druyan durou até sua morte, em 1996.
Isaac Asimov, renomado escritor e cientista, descreveu Sagan como uma das duas únicas pessoas que ele conheceu cujo intelecto superava o seu próprio. O outro, segundo Asimov, foi o cientista Marvin Minsky, especialista em inteligência artificial.
Sagan também escrevia frequentemente sobre religião e a relação entre ciência e fé. Ele expressava seu ceticismo em relação à concepção convencional de Deus, como um ser sábio, e, por exemplo, afirmou:
“Algumas pessoas acreditam que Deus é um enorme homem de pele clara com uma longa barba branca, sentado em um trono em algum lugar lá em cima no céu, ocupado na contagem da queda de cada pardal. Outros – como Baruch Spinoza e Albert Einstein – consideraram Deus como essencialmente a soma do total das leis da física que descrevem o Universo. Eu não conheço nenhuma evidência convincente para a existência de um patriarca antropomórfico controlando o destino da humanidade a partir de algum ponto celestial escondido, mas seria uma insanidade negar a existência das leis da física.”
Em outra ocasião, Sagan comentou sobre o conceito de Deus:
“A ideia de que Deus é um gigante barbudo de pele branca sentado no céu é ridícula. Mas, se, com esse conceito, você se referir a um conjunto de leis físicas que regem o Universo, então claramente existe um Deus. Só que ele é emocionalmente frustrante: afinal, não faz muito sentido rezar para a lei da gravidade!”
Em 1981, Sagan ainda comentou sobre o ateísmo:
“Um ateu é alguém que tem certeza de que Deus não existe, alguém que tem provas irrefutáveis contra a existência de Deus. Não conheço essa evidência convincente. Como Deus pode ser relegado a tempos e locais remotos e causas últimas, teríamos que saber muito mais sobre o universo do que agora para ter certeza de que Deus não existe. Ter certeza da existência de Deus e da não existência de Deus me parece ser os extremos confiantes em um assunto tão cheio de dúvida e incerteza que pouco inspiram confiança.”
Sagan também fez uma reflexão sobre o cristianismo, dizendo:
“Minha visão de longa data sobre o cristianismo é que ele representa um amálgama de duas partes aparentemente imiscíveis: a religião de Jesus e a religião de Paulo. Thomas Jefferson tentou extirpar as partes paulinas do Novo Testamento. Não sobrou muita coisa quando ele concluiu, mas era um documento inspirador.”
Em 1996, quando questionado sobre suas crenças religiosas, Sagan se identificou como agnóstico, uma posição que ele sustentava ao longo de sua vida. Sua visão sobre o universo foi comparada à concepção de Deus de Einstein, mais especificamente à ideia de um “Deus de Espinosa”, que é visto como uma força impessoal e imanente nas leis da natureza.
De acordo com Ann Druyan, sua última esposa, Sagan não era um crente. Ela relata que, após sua morte, muitas pessoas lhe perguntavam se Carl havia mudado suas crenças em seus últimos dias, especialmente sobre a vida após a morte. Ela respondeu:
“Quando meu marido morreu, porque ele era tão famoso e conhecido por não ser um crente, muitas pessoas vinham até mim – ainda acontece às vezes – me perguntando se Carl havia mudado no final e se convertido a uma crença na vida após a morte. Também me perguntam frequentemente se eu acho que vou vê-lo novamente. Carl enfrentou a morte com coragem inabalável e nunca procurou refúgio em ilusões. A tragédia foi que sabíamos que nunca iríamos nos ver outra vez. Eu não espero estar com Carl novamente.”